Metodologias de investigação participativa

Métodos e técnicas participativos aplicados no âmbito do projeto internacional de investigação-ação URBINAT são apresentados no dia 17 de novembro, entre as 10h e as 13h, por Gonçalo Canto Moniz e Beatriz Caitana, no âmbito da unidade curricular Seminário de Dissertação/Projeto, na FEUC.

Esta sessão decorre em regime híbrido, no link:

https://videoconf-colibri.zoom.us/j/94326755197?pwd=MEk1S2piWDRjeE9NdmN5NkhLZkR6Zz09

O URBINAT – Healthy corridors as drivers of social housing neighbourhoods for the co-creation of social, environmental and marketable NBS, é financiado no âmbito do Horizonte 2020, da Comissão Europeia, e coordenado a partir do Centro de Estudos Sociais, envolvendo parceiros de França, Itália, Dinamarca, Eslovénia, Bélgica e Bulgária.

Gonçalo Canto Moniz e Beatriz Caitana apresentam as metodologias de co-criação do projeto, incluindo co-diagnóstico, co-design, co-implementação e monitorização.

Gonçalo Canto Moniz é investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Professor Associado do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Tem investigado e publicado sobre Regeneração Urbana e sobre Arquitectura Moderna, nomeadamente sobre os equipamentos escolares e o ensino da arquitectura.

Beatriz Caitana é socióloga e investigadora no âmbito do projeto URBiNAT no Centro de Estudos Sociais (CES). É também membro permanente do grupo de estudos sobre Economia Solidária – Ecosol/CES. Estudante de doutoramento na FEUC, a sua investigação académica centra-se nas economias alternativas, nomeadamente economia social e solidária, incubação social e iniciativas de co-produção. Sua formação profissional e áreas de atuação também incluem a gestão de projetos sociais para organizações nacionais e internacionais sem fins lucrativos, no Brasil.

O MISIE na Aldeia da Inovação Social

Nos dias 20 e 21 de Julho decorreu na Aldeia da Luz, Alentejo, a 2ª edição da Aldeia da Inovação Social, organizada pela Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS). Tratou-se de um programa intenso que reuniu os participantes do ecossistema de inovação social em Portugal, empreendedores sociais, empresas sociais, projetos de inovação, entidades da economia social, empresas, responsáveis públicos e políticos, estruturado em mesas de discussão e apresentações de práticas e projetos em 6 palcos.

A professora e as alunas do MISIE estiveram presentes!

Sílvia Ferreira participou na mesa sobre EMPRESAS SOCIAIS E NOVAS FORMAS DE INTERVENÇÃO, com Carlos Azevedo (Presidente da Direção IES e Research Manager Yunus Social Innovation Centre), Joana Cymbron (Coordenadora do Gabinete Jurídico da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social – CASES) e Maria Folque (Advogada na Vieira de Almeida – VdA), moderados por Diogo Queiróz de Andrade.

Convidados/as na uc Gestão de Organizações e Empresas Sociais

 Gerir pessoas para o bem-estar e coordenação relacional

Ao abrigo da curricular Gestão de Organizações e Empresas Sociais (MISIE), foi debatido no dia 21 de abril, o tema “Gerir pessoas para o bem-estar e coordenação relacional”, beneficiando da apresentação da Professora Teresa Carla Oliveira. O debate foi moderado pela Professora Helena Reis.

Teresa Carla Oliveira é doutorada em Psicologia Organizacional, Birkbeck College, University of London, 1999. Professora auxiliar da FEUC lecionando nas áreas da Gestão de Recursos Humanos, Gestão e Pessoas e Comportamento Organizacional aos níveis da graduação e pós-graduação e investigadora do CEBER.

Estado, Economia Social e Parcerias

A sessão de trabalho da curricular coordenada pela Professora Helena Reis, no dia 5 de maio, contou com a participação do Professor João Pedroso, para abordar o tema “Estado, Economia Social e Parcerias”, tendo motivado um debate em torno de matérias de elevada oportunidade e atualidade, que são incontornáveis para as organizações sociais e para a intervenção social.

João Pedroso é Professor Auxiliar da FEUC e investigador do CES. É licenciado em Direito (1983), mestre em Sociologia do Direito, do Estado e da Administração (2002) e doutor em Sociologia do Direito, do Estado e da Administração (2013) pela Universidade de Coimbra. Frequentou Cursos de Pós-graduação no Science Po – Institut d´Études Politiques de Paris ( 1995/1996) e no instituto Internacional de Sociologia Juridica de Oñati. Pertenceu a diversas comissões de reforma legislativa designadamente presidiu à  Comissão que elaborou   o Estatuto Fiscal Cooperativo ( 1997) e exerceu diversos cargos públicos designadamente de Presidente da Comissão instaladora e do CD do Instituto de Segurança social, IP ( 2000/2001)

Colaboração com a Pós-Graduação em Economia Social

No âmbito do Ciclo de Experiências Vivas da Pós-Graduação em Economia Social, da FEUC, coordenado palas Profa. Doutora Teresa Carla Oliveira, e da unidade curricular Gestão de Organizações e Empresas Sociais, do MISIE, coordenada pela Prof. Doutora Helena Reis, decorreu, no dia 14 de abril, na FEUC, a apresentação e discussão de dois casos de inovação social.

Esta sessão foi seguida de uma conversa entre Mércia Britto e as/os estudantes sobre questões de comunicação e fund raising.

Cinema Nosso, apresentado por Mércia Britto

É uma instituição sociocultural que trabalha para proporcionar experiências de tecnologia e inclusão para a produção de narrativas juvenis, fomentando a cadeia produtiva do audiovisual no Rio de Janeiro. Tendo como missão a “– Ampliar o universo estético e cultural através da formação audiovisual com inovação e novas tecnologias gerando impacto social”, o Cinema Nosso é reconhecido como uma das maiores escolas populares de audiovisual na América Latina, tendo mais de 5000 jovens formados.

https://cinemanosso.org.br/

Causa – Unidos por uma casa, apresentado por Afonso Almeida Fernandes

A CAuSA é uma associação de arquitetos, designers e gestores Nasceu com os incêndios de Outubro de 2017 e pretende levar a arquitectura aos mais desfavorecidos.

Os seus projetos apoiam as vítimas dos incêndios para lhes permitir retomar a atividade económica. O Anexo Agrícola oferece a cada agricultor a reconstrução do sítio de apoio à Horta, maioritariamente feito de madeira ardida, sendo esta madeira reaproveitada, comprada e trabalhada em serrações locais. A Horta não só proporciona parte do sustento, como permite participar na implementação de uma rede de fornecedores de bens alimentares, enquadrados no âmbito da Agricultura Familiar, de modo a poderem obter rendimento da sua atividade.

Em parceria com a Just a Change também realizam projetos de reabilitação de casas com escassas condições de habitabilidade.

https://www.associacaocausa.pt/sobre-nos

Visita à Universidade de Roskilde

No âmbito do acordo Erasmus+ entre o Mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo da Universidade de Coimbra e o Mestrado em Empreendedorismo Social e Gestão da Universidade de Roskilde, Dinamarca, Sílvia Ferreira visitou a Universidade de Roskilde entre os dias 27 de março e 1 de abril, onde leccionou na unidade curricular Inovação Social, Mudança Social e Transição Sustentável, do Mestrado em Empreendedorismo Social e Gestão.

Para além dos acordos gerais disciplinares das Faculdades em Economia e de Psicologia e Serviço Social, o MISIE tem um acordo Erasmus+ com o Mestrado em Empreendedorismo Social e Gestão, da Universidade de Roskilde e com o Mestrado em Gestão da Economia Social da Universidade de Bolonha, permitindo o intercâmbio de docentes e estudantes.

Mais informações sobre mobilidade outgoing em Erasmus+ e outros programas aqui:

https://www.uc.pt/driic/mobilidade/out/programas_mobilidade/index

Seminário: Ecossistemas de Inovação Social – teoria, política e prática

9 de Dezembro, Anfiteatro 3.1, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Ainda que as práticas de inovação social sejam tão antigas quanto as iniciativas da sociedade para melhoria das condições de existência humana, sobretudo a partir do século XX, as políticas e a investigação sistemáticas sobre a inovação social são mais recentes, do século XXI.

Portugal posicionou-se como pioneiro na implementação de políticas de promoção de inovação social, mais notavelmente através da iniciativa Portugal – Inovação Social, criada em 2014, no âmbito do Acordo de Parceria Portugal 2020 assinado com a Comissão Europeia.

Nas práticas multiplicaram-se as iniciativas de inovação social em velhas e novas organizações da economia social, organismos públicos e, mesmo, em organizações lucrativas, pela mão de empreendedores/as sociais, institucionais e políticos.

Hoje, interessa-nos fazer o balanço do que tem sido as práticas, as políticas e a investigação sobre a inovação social em Portugal na Europa, mas, também, olhar para o futuro e perceber as tendências.

Neste Seminário pretendemos conversar sobre a iniciativa Portugal – Inovação Social e o seu futuro na nova Agenda para o Impacto 2030.

Interessa-nos compreender o significado e implicações de olhar para os ecossistemas de inovação social, e não apenas para as práticas individuais e organizacionais.

Através de um caso exemplar, prestaremos atenção ao modo como as práticas têm evoluído e têm interagido com as políticas de inovação social e os com os seus próprios ecossistemas.

Mais informações: https://mestradoisie.wordpress.com/conferencias/seminario-ecossistemas-de-inovacao-social-teoria-politica-e-pratica/

Portugal – Inovação Social

O Doutor Filipe Almeida, presidente da Portugal Inovação Social visitou-nos para nos falar do passado e do futuro da inovação social em Portugal.

No âmbito da unidade curricular Sociedade, Inovação e Empreendedorismo

A economia solidária e as empresas sociais nos Açores

Terminou ontem o ciclo de conferências organizado no âmbito da unidade curricular Contextos e Práticas de Empreendedorismo Social e assim nos aproximamos rapidamente do final do primeiro semestre deste ano que nos marcará para sempre.

Terminámos com o tema que começámos: a economia social e solidária e as empresas sociais. A conferência final debruçou-se sobre a economia social e solidária nos Açores, com a participação de dois dos seus atores mais significativos, a Kairós – Cooperativa de Incubação de Iniciativas de Economia Solidária, uma das primeiras organizações do movimento da economia solidária dos Açores, apresentada pelo Dr. Pedro Gouveia, e a Cresaçor – Cooperativa Regional de Economia Solidária, a rede de organizações de economia solidária dos Açores, com 27 membros que desenvolvem atividades económicas de inserção pelo trabalho e pela economia, apresentada pela Dra. Inésia Pontes.

As duas apresentações trouxeram-nos informações sobre as atividades das duas organizações, mas também nos trouxeram reflexões sobre a razão de ser da singularidade dos Açores no que se refere à vitalidade do movimento da economia social e solidária e das empresas sociais, sem paralelo no restante panorama em Portugal. Como refere Rogério Roque Amaro, os Açores integram, com as Ilhas da Madeira, Canárias e de Cabo Verde, um terceiro modelo de economia solidária, o modelo da Macaronésia, a par com o modelo da América do Sul e o Europeu francófono.

A Kairós, nascida em 1995, emerge do movimento Kairós, de um conjunto de organizações sociais de intervenção na luta contra a pobreza e exclusão social determinadas em inovar nas formas de atuação na perspetiva da inclusão pelo trabalho. É assim que hoje conta com um conjunto de iniciativas empresariais solidárias – empresas sociais – como a Cozinha Kairós, BioKairós, KMove e a KBike Center. É coproprietária do CIARIS-CT – Centro Informático de Aprendizagem e de Recursos para a Inclusão Social e Coesão Territorial, “um espaço virtual de conectividade e partilha de informação e de geração de conhecimento útil destinado a todas as pessoas interessadas no aprofundamento dos domínios temáticos relacionados com a ‘Integração Sócio-económica’, ‘Coesão Territorial’, ‘Economia Solidária’, ‘Cultura, Identidade e Criatividade’ e ‘Animação Territorial’”. Aqui se pode encontrar vasta documentação disponível online, nomeadamente a que deu origem à conceptualização e desenvolvimento da economia solidária da Macaronésia, como a Brochura “Economia Solidária – Contributos para um conceito”, da autoria de Rogério Roque Amaro e Francisco Madelino, 2004 (Projecto de Iniciativa Comunitária INTERREG III B “ESCALA”/ Estratégia de Desenvolvimento para a Sustentabilidade das Empresas de Economia Solidária).

A Cresaçor é uma cooperativa de 27 organizações da ESS de 6 ilhas dos Açores, da qual a Kairós é membro-fundador que celebra este ano os seus 20 anos, tendo nascido no âmbito do Projeto de Luta Contra a Pobreza e pela criação de um programa para o desenvolvimento das empresas de inserção sócio-profissional dos Açores – O Projeto IDEIA, iniciado em 1999. Aos seus cooperantes presta apoio na promoção, valorização, comercialização e distribuição dos seus produtos. Tem particular destaque o apoio o Gabinete da Qualidade SICARO, que implementa e monitoriza os critérios da qualidade na Rede da Economia Social e Solidária dos Açores e o Selo de Garantia CORES, que certifica a origem e a qualidade dos produtos e serviços das organizações da Rede de Economia Solidária dos Açores. Além disso, e entre outras atividades e projetos a Cresaçor atua na promoção do micro-empreendedorismo, nomeadamente através da educação, formação e à incubação do posto de trabalho, no âmbito do Mercado Social de Emprego e do acesso ao Microcrédito, sendo de destacar a sua incubadora, a INCUBAÇOR, que “acolhe, acompanha, e dispõe de apoio técnico especializado a todos os empreendedores que possuam uma ideia de negócio e desejam desenvolvê-la, ou às micro e pequenas empresas em fase inicial independente da sua forma jurídica, fornecendo-lhes assim alojamento temporário.” Outro membro da Cresaçor, que tem nela a sua sede, é a ACEESA –  Associação Centro de Estudos de Economia Solidária do Atlântico, orientada para a produção de conhecimento sobre economia solidária e que edita a única revista em Portugal deste campo, a Revista de Economia Solidária. Pode ver o vídeo dos 20 anos da Cresaçor aqui.

O Dr. Pedro Gouveia e a Dra. Inésia Pontes não só trouxeram uma ideia clara sobre a realidade das duas organizações e da economia solidária nos Açores como nos tentaram ajudar a responder à pergunta: porquê a singularidade dos Açores no que se refere à vitalidade da economia solidária e das empresas sociais. Percebemos que são muitos os factores que contam para o desenvolvimento de um ecossistema favorável, ao que não é alheio o próprio comprometimento destas organizações não só no desenvolvimento das suas atividades, mas no reforço de todo o sector nos Açores. A colaboração interorganizacional numa perspetiva de fortalecimento mútuo e de interesse comum é bem visível nas atividades desenvolvidas e na proximidade que se depreende entre as duas organizações e com outras que foram sendo mencionadas. O papel da Cresaçor enquanto rede e organização promotora demonstra a importância deste tipo de organizações de infraestrutura. Também é evidente na história das organizações e nas suas iniciativas o papel do conhecimento e a relevância das alianças com a academia. Este está presente na conceptualização da economia solidária da Macaronésia, patente na coerência e clareza da sua presença nas iniciativas e reflexões, nos estudos sobre a economia solidária e o microempreendedorismo que promovem o conhecimento da realidade local e informam a estratégia de desenvolvimento das atividades, e na preocupação em avaliar e demonstrar o impacto social não só das organizações singulares, mas de todo o sector nos Açores – um projeto que a Cresaçor tem agora em curso. Por último, e não despiciente, é a relação entre o sector e os organismos públicos e governamentais regionais. Ficámos a saber que a autonomia do governo regional permite desenhar políticas que têm especificidades relativamente às políticas de Portugal Continental, por exemplo, ao nível do microcrédito e do Mercado Social de Emprego. Este último é um caso particularmente relevante pois é uma política que apoia a criação de empresas de inserção, com um apoio para o seu arranque e funcionamento nos primeiros anos, após os quais as empresas de inserção devem encontrar a sua sustentabilidade. Esta política, criada em 1996 e entretanto extinta no Continente, permitiu que se contassem, em 2004, 424 empresas de inserção (Quintão, 2008). Nos Açores a política foi desenvolvida mais tardiamente, por iniciativa das entidades regionais, sendo que persiste até hoje (Fontes, 2019). É, pois evidente, que a singularidade dos Açores resulta, também da proximidade e do diálogo entre os atores estatais e os atores da economia social e solidária e da relativa autonomia do governo e organismos regionais em relação ao Estado central.

Esta sessão foi naturalmente inspirada e enformada pelo conhecimento produzido no âmbito do projeto em curso TIMES – Trajetórias Institucionais e Modelos de Empresa Social em Portugal, desenvolvido no Centro de Estudos Sociais, que procura perceber o que são empresas sociais em Portugal. Tanto a Cresaçor como a Kairós têm vindo a participar no estudo, sendo que a Kairós é um dos estudos de caso do projeto.

Encontro sobre “Os Desafios do Distanciamento nas Organizações de Proximidade”

Decorreu no dia 20 de Novembro  de 2020, entre as 17h e as 19h um encontro virtual para partilhar experiências e debater sobre “Os Desafios do Distanciamento nas Organizações de Proximidade”.

Este encontro foi organizado pela Secção Temática Sociedade Civil, Economias Alternativas, Voluntariado (STSCEAV) da Associação Portuguesa de Sociologia, em colaboração com a unidade curricular do MISIE, Contextos e Práticas de Empreendedorismo Social e a Licenciatura em Sociologia do Departamento de Sociologia da FLUC e do Instituto de Sociologia desta Faculdade.

O objectivo foi refletir sobre a situação pandémica do ponto de vista: 1) das organizações da chamada economia do cuidado, onde serviços de proximidade são afectados por novos requisitos legais e pressões na gestão dos seus recursos humanos (como lares onde se apelou a uma rápida substituição de profissionais) e 2) das oportunidades de expansão e sustentabilidade da chamada economia da reciprocidade (de cooperativas fornecedoras de cabazes alimentares a grupos de interajuda).

O encontro teve a apresentação e a moderação das atuais coordenadoras da STSCEAV, Cristina Parente (FLUP), Raquel Rego (ICS-ULisboa), Sílvia Ferreira (FEUC), a apresentação de dois casos de “experiências do distanciamento”, O Abrigo – Centro de Solidariedade Social de São João de Ver, por Alexandra Silva, formada em Serviço Social e diretora técnica da organização, e o Coletivo Recreativa dos Anjos (RDA), Lisboa, por José Nuno Matos, sociólogo, investigador no Instituto de Ciências Sociais, e membro do Coletivo, e o comentário de Graça Rojão, cofundadora e diretora da CooLabora e doutoranda na Universidade da Beira Interior.

O Abrigo – Centro de Solidariedade Social de São João de Ver é uma IPSS com várias valências, do concelho de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, que convidámos pela sua filosofia e metodologia de atuação. Alexandra Silva destacou o cansaço emocional de todos os profissionais, resultante do sentimento de risco e incerteza que a pandemia trouxe, e de um estado de alerta permanente que invade a esfera pessoal.

O Abrigo possui uma filosofia de trabalho que é a Humanitude, uma filosofia de relação e que promove a utilização de um conjunto de ferramentas, nomeadamente o olhar, a palavra, o toque como instrumentos de trabalho facilitadores da relação. Ora, os planos de contingência em vigor obrigaram a isolar as equipas de trabalho e as respostas sociais e, portanto, à passagem de uma cultura de proximidade, de interação, para uma necessidade de manter uma separação física efetiva. Porém, segundo referiu Alexandra Silva, foi esta filosofia de relação que deu alguma orientação e alguma certeza no caminho a fazer face a todo o risco e a toda a incerteza que o vírus veio trazer.

O Coletivo RDA, organização sediada nos Anjos, uma freguesia de Lisboa, que se dedica sobretudo a atividades socioculturais e que convidámos por ter criado uma cantina social durante a pandemia. Foi criada em 2010, num contexto de austeridade económico-financeira, e é um centro social dedicado a atividades de natureza sociocultural. Face ao aumento exponencial de casos de infeção covid-19 e consequente declaração de estado de emergência a Recreativa dos Anjos, à semelhança de outras organizações, foi forçada a encerrar. Instalada numa zoa de grandes contrastes sociais, onde se verificam processos de gentrificação e turistificação e, ao mesmo tempo, a presença de um grande número de pessoas sem-abrigo, imigrantes e refugiados e perante o aumento de necessidades desta população que se acentuaram e tornaram mais visíveis com o confinamento, criou uma cantina solidária. Esta iniciativa, que terminou em setembro, chegou a fornecer uma média diária de duzentas refeições. Atualmente possuem uma esplanada comunitária, para todas as pessoas, sem abrigo ou não, onde as próprias pessoas podem ir cozinhar, conversar, carregar o telemóvel ou ter acesso a água. A ideia é desafiar a separação entre quem dá e quem recebe, um sujeito e um objeto de caridade.

José Nuno Matos destacou que a cozinha solidária se insere num movimento mais amplo de experiências mais ou menos análogas no Porto (Rede de Apoio Popular Mútuo), em Arroios, Penha de França (Disgraça), Barreiro (Cooperativa Mula), e Bairro da Cova da Moura, a que chamou de desmonetarização da ajuda. O impacto desta experiência é expresso na sua Carta Aberta às Comunas.

Foi na qualidade de investigadora sobre o decrescimento e o cuidado nas iniciativas locais, tema da sua tese de doutoramento em curso, que convidámos Graça Rojão a comentar estas duas experiências.

Graça Rojão sublinhou o facto de estarmos perante duas organizações muito diferentes mas que partilham a centralidade que dão ao cuidado. Refere que o cuidado faz parte daquilo que são as nossas necessidades e da nossa condição humana, extravasando a situação de vulnerabilidade de um momento específico da nossa vida, como agora com a pandemia, mas o reconhecimento que somos seres interdependentes. Isso implica assumirmos que o cuidado devia ter um peso central no nosso modelo de organização social.

Existe um cuidado profissionalizado, como O Abrigo demonstra bem, mas também existe um volume muito grande de cuidado feito numa outra esfera. Destaca, do site do Abrigo, a seguinte frase: “cuidamos de pessoas e das suas famílias, cuidamos das pessoas que não têm quem cuide delas, dos pais que procuram quem ajude a cuidar dos seus filhos, dos filhos já adultos que procuram quem ajude a cuidar dos seus pais. Queremos que os cuidados que prestamos sejam os cuidados que gostaríamos de proporcionar às pessoas que mais amamos.” A partir da inspiração do Coletivo RDA questiona se não podemos pensar em outras formas de distribuir o cuidado para cuidados mais coletivos.

Chama, pois, a atenção para a desvalorização sistemática do trabalho relativo ao cuidado que ocorre na esfera do cuidado profissional, do cuidado que é feito a troco de um salário, e no cuidado em geral que é feito na esfera doméstica, onde surge como um trabalho naturalizado e desigualmente repartido entre os sexos.

O Coletivo RDA inspira a ideia de pensar a economia além de uma visão estritamente mercantil, considerando que a esfera mercantil deixa de fora as relações de reciprocidade, de solidariedade e também muito do que é o trabalho de cuidado, e sobretudo o que é o trabalho que acontece nas esferas familiares ou nas esferas mais comunitárias. Da página do Coletivo, sobra a cantina comunitária destaca a seguinte frase: “A cantina foi uma forma de lidarmos com o estado de catástrofe que se intensifica. Esta resposta deu-se não só através da distribuição de refeições a quem se encontra em situações de privação, mas também como um momento de ensaio, de formas de organização e de relação que procuram ir para além da estatização e de monetarização do cuidado”.

Sublinhado nas apresentações dos dois casos, foi também referido por Graça Rojão que a crise pandémica veio evidenciar a exclusão, a desigualdade, o desastre ecológico e a captura da democracia por interesses económicos que não estão efetivamente ao serviço das pessoas. Tal evoca dois aspetos importantes: a tensão entre esmola e a solidariedade, entre a denúncia das condições estruturais que fazem com que haja pobreza e a mitigação dos efeitos da crise e a importância de um cuidado relacional, interpessoal, mas também, o cuidado também como ecodepedência. Por outro lado, estas e outras experiências apontam modelos alternativos de organização da sociedade. Como refere:

“Parece-me que há, em termos gerais, uma grande riqueza de experiências ligadas ao cuidado, muitas que vieram a ser evidenciadas agora com a pandemia e que são muito contracorrente, obviamente, e que mostram como a participação efetiva, o rompimento desta cisão entre nós e os outros, entre quem ajuda e quem pode ser ajudado, entre quem pode dar e quem tem de receber. Penso que este rompimento, destas diferenças mostram que há outras possibilidades de construção de futuros e que há um potencial emancipatório também muito forte no modo como estas iniciativas se organizam.”

O debate que se seguiu decorreu com o aprofundamento de informação sobre os dois casos apresentados, bem como das reflexões trazidas pela comentadora. A desvalorização do cuidado profissional foi bem exemplificada pela medida governamental, em contexto de contingência pandémica, de substituição dos profissionais das IPSS por desempregados, trabalhadores em lay-off, estudantes, trabalhadores independentes (Medida de Apoio ao Reforço de Emergência de Equipamentos Sociais e de Saúde (MAREESS)). A crise pandémica, além de ter tornado mais visíveis e aprofundado as desigualdades sociais, também nos trouxe o paradoxo de que muitos dos chamados “trabalhadores essenciais”, que estiveram na linha da frente durante a contigência e o confinamento, são os que auferem de mais baixos salários e de condições de grande precaridade laboral.

Foi também sublinhado que os meios de comunicação têm sobretudo servido para transmitir uma construção negativa da realidade e a invisibilidade das práticas da economia social e solidária, nomeadamente aquelas como as que hoje estivemos a discutir. A este propósito as organizadoras da sessão comprometeram-se que irão produzir e divulgar um documento resultante desta sessão, muito rica em termos da informação e reflexões que trouxe.

Tomando o mote da necessidade de uma melhor comunicação entre as organizações, uma das participantes do encontro aproveitou para divulgar o Manifesto, Para uma Necessária Reconstrução do Trabalho Social: Do Estado do Trabalho Social a um Trabalho Social do Estado, convidando todos/as participantes à sua subscrição.

A Secção Temática Sociedade Civil, Economias Alternativas, Voluntariado da APS, criada em 2018, visa dar visibilidade a uma área de estudo tratado por várias disciplinas das ciências sociais e humanas e onde a sociologia tem tido um papel proeminente, desde os seus clássicos.

Esta área tem vindo a ser designada de inúmeras formas que variam de acordo com contextos, as unidades de análise e enfoque analítico. Descreve o envolvimento dos indivíduos em sociedade, frequentemente de forma coletiva e mais ou menos organizada: organizações não-governamentais, organizações sem fins lucrativos, terceiro sector, economia social, economia solidária, economia popular e microempreendedorismo, empresas sociais, empreendedorismo social e coletivo, sector voluntário, militantes, ativistas, movimentos sociais, participação cívica…

Pretende-se dinamizar a comunidade de sociólogos membros da Secção da APS e promover sinergias institucionais e outras que potenciem a sua consolidação e crescimento. Para um primeiro mandato, esta Secção propôs-se, essencialmente, promover a troca dentro da estrutura já existente na APS, promover parcerias, eventos e uma primeira produção conjunta no final do período. Além deste primeiro Encontro, a Secção está atualmente envolvida no Congresso Português de Sociologia, que decorrerá de 29 a 31 março de 2021, quer através da organização de sessões temáticas, quer através da coorganização de uma sessão semiplenária em colaboração com a Secção Temática de Direito e Justiça e a Secção Temática Globalização, Política  e Cidadania.

Participação do MISIE no 25º workshop da APDR

Ao longo da semana os/as estudantes do 2º ano do MISIE participaram nas conferências online do 25º workshop da APDR, sob o tema “Social Innovation Towards Sustainability: Embracing Contemporary Challenges for Regional Development”, que decorreu entre 28 de setembro e 2 de outubro.

No dia 2 de outubro a docente e a turma participou coletivamente na sessão de encerramento, que incluiu uma conferência a partir da sala de aula e questões colocadas pelos/as estudantes aos palestrantes.

No final, alguns/as colegas apresentaram à turma relatórios de sessões que assistiram ao longo da semana.

Esta sessão demonstrou o grande potencial da articulação entre o presencial e o virtual.

PROGRAMA

MONDAY – 28/09/2020

16h30 Keynote Opening – EN

Power dynamics in transformative social innovation
Flor Avelino

Community resilience, sustainability and success on the margins and peripheries
Michael Danson

Chair: Hugo Pinto

TUESDAY – 29/09/2020

14h30 Parallel Session 1 – PT: Tourism and Territorial Renewal

WEDNESDAY – 30/09/2020

14h30 Parallel Session 2 – EN: Spaces for Sustainable Social Innovation

16h30 Parallel Session 3 – PT: Learning for Social Innovation

THURSDAY – 01/10/2020

14h30 Parallel Session 4 – PT: Social Innovation and Communities

16h30 Parallel Session 5 – PT: Regional Dynamics

FRIDAY – 02/10/2020

14h30 Focus Group – PT: The transformative potential of social innovation for regional development

Chair: Carla Nogueira

16h30 Keynote Final – PT

Institutional relatedness, technology and sustainability in economic geography: a sympathetic critique
Mário do Vale

Public policies and social innovation governance
Sílvia Ferreira

Portugal Social Innovation: a pioneering policy for development
Filipe Almeida

Chair: Hugo Pinto